terça-feira, 28 de julho de 2009

O avesso do avesso do avesso de 24 / jul / 2009

Você não é aquela atriz da novela, do cabelo curto?!? Foi a primeira frase que escutei do morador da cidade, devidamente mascarado por causa da Nova Gripe. Desembarquei numa das entradas da Estação Luz do Metrô, com minha mala mais parecida com um elefante: grande e pesada. Trôpegamente, cruzamos a rua. Nem deu tempo de abrir a sombrinha que estava pro cima de tudo, dentro da bendita. Droga, molhei minhas botas! Novinhas..., pensei. O chuvisco encaracolou imediatamente meus cabelos maquiados pela prancha alisadora que somava no peso da mala. Logo o tiozinho do taxi buzinou. Fiz sinal. Ele encostou. Entrei. Assim aconteceram meus 15 segundos de fama. Confundiu-me. Quem sabe, parou por um autógrafo que imaginou estar prestes a ganhar, ou pelo prazer de carregar celebridades. É: se foi por isso, o tio dançou... Tudo por causa do chanel...

- Bom dia!... Por favor, Av. Nove de Julho, 1164, próximo da Avanhandava, sentido Centro/Bairros, no Bela Vista...

Vriiiic, shooop... O discreto limpador de párabrisas acenava pausadamente pra paisagem que tanto tive saudade. Vriiic, shooop... Nos 15 minutos de trajeto - regado a chuvisco que antes era garoa - e outros tantos pares de parabrisas viajando em rítmo intenso, saí da Luz direto pra casa de meu pai.

- Guria, vem de onde?

- De Goiânia.

- Ah! Você pegou aquele ônibus dos sacoleiros!.. que para ali no Bom Retiro... Certo?

- Esse mesmo, peguei sim... É mais barato, bem confortável, e chega rápidinho. Os outros fazem muitas paradas, e tals... eu não gosto. Nas férias não tem promoção de passagem de avião! A gente tem que se virar, né...

- Vriiiic, shooop...

- É, verdade... Eu por exemplo, adoro passear por terra... Nossa, pra mim é a melhor coisa que existe! De onde eu vim, a paisagem é totalmente diferente! E dá prazer em sair de ônibus. Mas de lá de onde tu veio pra cá deve ter muita coisa interessante também! Eu prefiro!... Se bem que ultimamente não tenho nem como viajar. Tô trabalhando bastante, né. Faça chuva ou faça sol! Aqui taxista corre a cidade toda, e se não correr, não come! E olha esse horário!: 8 horas da manhã e já tá desse jeito! Não aguento mais isso daqui! Olha só, guria! Olha isso! Eu!? Eu só trabalho a noite! Essa cidade é um terror! Olha esse túnel! Não aguento mais! É carro demais, moto demais, ninguém respeita ninguém! Um horror! Lá na minha terra?! - eu sou do Rio Grande do Sul, de uma cidadezinha do interior, perto de Porto Alegre... Então, lá na minha terra não tem isso daqui não! Imagina!!! Meu filho?!... Meu filho sempre foi responsável no trânsito! Como a cidade, que era antes menorzinha do que hoje ainda é - meu filho dirigia pra mim pra todo lado com 15 anos de idade! Naquela época era tudo diferente, não tinha essa coisa de fiscalização. Ele ajudava nas contas de casa, sempre foi responsável - nunca aconteceu nada com ele! Ele trabalhava no restaurante que a gente tinha, levava comida, trazia as compras, fazia entrega pros clientes e ficava tudo certo! Aí depois tirou carteira e hoje trabalha em Porto Alegre. Tá casado, já... Mas naquela época, não tinha isso daqui não! Olha que absurdo! Que absurdo! Não... Eu?! Eu vou voltar pra minha terra! Sou taxista porque não tinha outra coisa pra fazer! E eu só trabalho a noite! Você deu sorte de ter me pego na rua a essa hora, porque minha mulher toma Rivotril... Já ouviu falar de Rivotril? Eu tenho que tá lá na farmácia as 8h! Já tô atrasado, mas daqui a pouco tô indo pra lá. Eu tava a caminho mesmo... Se bem que é lá na Zona Leste, a farmácia. Tem que pegar a guia, uma fiiila, uma complicação só! Você toma Rivotril? Não, né?! Minha esposa toma! Eu já tomei também, mas parei. Senão, deu 7 horas eu já tô dentro de casa, descansando! De noite? É beeem diferente! Dá pra passar nas ruas, fica tudo vazio. Aí sim é bom!... Nossa, eu fico louco com isso daqui!... Louco!... Esse carro aqui já foi pros cobres! Amanhã eu pego a papelada no Detran e passo minha concessão de taxi que já foi vendida pra um rapaz aí... Só tô esperando a papelada ficar pronta pra eu passar ele pra frente, pegar o dinheiro e voltar pra minha terra, meu lugar... ... ... Pois é...

- Vriiiic, shooop...

- ...

- Vriiiic, shooop... ... ... Vriiic, shooop...

- Então tá, guria! 12 reais!...

Peguei minha companheira de quase monólogo pelas mesmas alças, dei o trocado pro tiozinho e saltei.

- Muito obrigada, tio! Bom descanso, e vai com Deus...

Enfim, Sampa.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

A segunda marca no espaço, há 12 anos atrás

20 de Julho de 1969, Neil Armstrong dá o primeiro passo na Lua. Irônico usar os pés quando o sobrenome é "Braço Forte". Não menos úteis, esses braços hastearam a bandeira dos EUA, suspensa por um arame pra ficar a mostra. Tudo bem que os EUA estavam no direito de colocar sua bandeira, já que o mérito de pesquisas e esforços (idôneos ou não) foram deles. Mas poderiam ter sido mais democráticos, ido além da frase representativa "Um pequeno passo para o homem, mas um grande para a Humanidade", e levado, além da americana, uma bandeira mundial. Aliás, seria uma boa idéia pra nos tornarmos uma Nação Terra, e realizar as tarefas Humanitárias que são levadas com a barriga. Tomara que aquele pedaço de pano azul, branco e vermelho tenha desbotado, alvejado pelos mesmos raios que nos dão o dia em nosso Planetinha. Aliás, seria essa a cor da verdadeira bandeira da Humanidade pra, respeitosamente, pisar em qualquer lugar do infinito: BRANCO. E dane-se a semimorta Gerra Fria.

Com a moda de só falar no passo do Arsmstrong e o frisson do "homem" voltar na Lua daqui 11 anos (pra certamente trocar a velha e desbotada bandeira), lembrei-me da descoberta do solo marciano. O nosso satelitezinho romântico, 4 cm mais distantes de nós a cada ano que passa, hipnotiza os humanos de tal forma que faz concorrência ferrenha com o nosso vizinho dos habitantes verdes, e os deixa comendo poeira cósmica. Vez ou outra, ainda chamam a atenção. Há 12 anos, em julho de 1997, a NASA mandou um pequeno robô controlado por ondas de rádio pra bisbilhotar nosso vizinho - supostamente desabitado. Coisa de vouyer (risos)...

Eu cursava o Ensino Médio, chamado na minha época de Segundo Grau (e não acredito que usei a expressão jurássica a-lá pais e avós "na minha época"). A TV ainda era tudo! Nem sonhávamos com banda larga pra transmitir o Fantástico ao vivo com tanta facilidade. E como num flashback de meus pais, era eu quem via pela telinha (na Rede Globo - Plim Plim!), a sonda americana explorar o solo avermelhado de Marte com uma camereta de imagens preto e branco, acomplada no robozinho.


Julho, tempo de fazer nada... Todo mundo nem aí pras notícias! Em agosto, em procedimento padrão, a Professora de Redação pediu uma crônica dos acontecimentos mundiais nas últimas férias mais felizes de nossas vidas - precedentes a vestibulares, faculdade, mercado de trabalho e contas, contas, contas...

Sempre gostei de crônicas. São versáteis, não é preciso prender-se à ordem quadrada das palavras. Pra mim, a crônica é a crítica bacana. Cai como luva pro meu humor agridoce. Descobri a crônica em 97...


Goiânia, 07/08/97
Colégio Pré-Médico
Aluna: Aline Nóbrega Costa - 3ºB - nº 03

Redação

Redija uma crônica com o seguinte tema: "Coisas de Julho".

"Coisas de Julho"

Julho passou tão rápido quanto a explosão no avião da TAM e mais agitado que a greve dos PMs.

Um meio de ano de fim de século pra lá de avançado: útero artificial que deu a vida a um cabritinho, robô que parece gente - empurra carrinho e anda sozinho; sonda que chega quicando em Marte, empaca na "Zé Colméia" e dança ao som de um samba de Beth Carvalho. Julho que andava em crateras - não as da Lua, e muito menos de Marte, mas as da BR-153, que será finalmente duplicada.

Julho caribenho quente com direito a muita lava e nuvens de fumaça pra estragar a festa dos turistas.

A Dna. Morte veio nos "presentear" com um mercado em Jerusalém salpicado de pedaços humanos e um estilista que lavou as escadas de sua casa com sangue de sua cabeça cheia de idéias para vestir mulheres que, não menos inteligentes, têm 4 bilhões de neurônios a menos que os homens.

Chê-Guevara finalmente foi encontrado, ou pelo menos o que restou dele - arcada dentária perfeita, mas sem as mãos que revolucionaram Cuba.

Na política, muito bafafá: BC muda de chefão e Íris Rezende é proclamado, ou melhor - jogado no Ministério da Justiça, e depois de uma frase memorável é recebido com toda atenção por FHC. O nosso Presidente também foi lembrado nas férias, e recebeu um belo protesto em Brasília: MST, PT e Metalúrgicos em Geral, além de outras classes "prejudicadas" tentaram por abaixo o nosso diplomata neoliberal.

É, julho passou, mas as consequências destes acontecimentos ficaram e marcaram o Julho de 97. Que venha o de 98!!!

A redação foi lida na sala de aula, recebeu elogios da bendita professora que eu esperava lembrar de seu nome até o final desse post - mas acabei não lembrando (algo como Nilza, Nilda...). Eu, roxa de vergonha, peguei a redação, guardei no caderno. Quando cheguei em casa, coloquei-a num envelope. É um dos objetos de apego em meio a papéis de bombons e bilhetinhos juvenis. Levarei-o pela vida. Também pelos elogios da professora, mas principalmente por ter sido a primeira crônica desde que me entendo por digitadora com desfunção tecladiana (apelido carinhoso que ganhei de um conhecido...).


Não sou muito adepta a homenagens àqueles que não conheço. A humildade coloca-me no meu devido lugar. Quem sou eu pra fazer uma honraria a uma grandiosidade dessas? Penso que homenagem é algo um tanto pessoal pra fazer a pessoas ou fatos distantes do meu alcance de ação. Mas desta vez, senti-me na liberdade de colocar aqui a minha primeira crônica como mais uma lembrança aos 40 anos do Homem na Lua, apenas pelo fato de há 12 anos atrás, na mesma época, os americanos terem rompido maiores distâncias espaciais, e ninguém se lembrou... Apenas isso...

Bjos temperados,
Lika

PS.(que parece ter virado tradição deste blog...): Em Julho de 98, o Brasil Perdeu a Copa da França para por 3X0 para os donos da casa. Feliz julho para a França, triste julho para nós. Enfim...

Para o verdadeiro meu amigo de hoje e aos futuros que hão de vir


E agora, certamente, já se vão seis anos... Jamais contara essa história. Os camaradas ficaram contentes de ver-me são e salvo. Eu estava triste, mas dizia: É o cansaço...

Agora já me consolei um pouco. Mas não de todo. Sei que ele voltou ao seu planeta; pois, ao raiar do dia, não lhe encontrei o corpo. Não era um corpo tão pesado assim... E gosto, à noite, de escutar as estrelas. Quinhentos milhões de guizos...

Mas eis que sucede uma coisa extraordinária. Na mordaça que desenhei para o príncipezinho, esqueci de juntar a correia! Não poderá jamais prendê-la no carneiro. E eu pergunto então: "Que se terá passado no planeta? Pode bem ser que o carneiro tenha comido a flor...".

Ora eu penso: "Certamente que não! O príncipezinho encerra a flor todas as noites na redoma de vidro e vigia bem o carneiro...". Então, eu me sinto feliz. E todas as estrelas riem docemente.

Ora eu digo: "Uma vez ou outra a gente se distrai e basta isto! Esqueceu uma noite a redoma de vidro ou o carneiro saiu de mansinho, sem que fosse notado...". Então os guizos se transformam todos em lágrimas!...

Eis aí um mistério bem grande. Para vocês, que amam também o príncipezinho, como para mim, todo o universo muda de sentido, se num lugar, que não sabemos onde, um carneiro, que não conhecemos, comeu ou não a rosa...

Olhem o céu. Perguntem: Terá ou não terá carneiro comido a flor? E verão como tudo fica diferente...

E nenhuma pessoa grande jamais compreenderá que isso
tenha tanta importância!


Esta é, para mim, a mais bela paisagem do mundo, e também a mais triste. É a mesma da página precedente. Mas desenhei-a de novo para mostrá-la bem. Foi aqui que o príncipezinho apareceu na terra, e desapareceu depois.

Olhem atentamente esta paisagem para que estejam certos de reconhecê-la, se viajarem um dia na África, através do deserto. E se acontecer passarem por ali, eu lhes suplico que não tenham pressa e que esperem um pouco bem debaixo da estrela! Se então um menino vem ao encontro de vocês, se ele ri, se tem cabelos de ouro, se não responde quando interrogam, adivinharão quem é. Então, por favor, não me deixem tão triste: Escrevam-me depressa que ele voltou...

O Pequeno Príncipe
Antoine de Saint-Exupèry


Não li o livro, mas me apaixonei pelo Principezinho na Sessão da Tarde. Nas férias de 1988, assisti pela TV a mais sincera história de minha vida. Talvez por isso eu dê tanto valor na amizade. Para uns, a família é mais importante. Sim, não estou discordando do valor imensurável da família. Família é família e não tem quem a substitua! Mas pra mim, a amizade tem tanto valor quanto, principalmente quando ela é na forma literal da palavra.

Tem amigos de todos os tipo: de bar, de balada, amigo-romance, com defeitos, com muitos defeitos, com qualidades, com muitas qualidades, amigo metade, amigo traíra (amigo?!?!), amigo palhaço, amigo FDP, amigo sumido, amigo (eterno e fiel) de 4 patas, amigo de informações, amigo só pra dizer que é amigo e contar papo pros outros não amigos, amigo do coração, amigo de brigas, amigo de internet, amigo que se mudou e continua do mesmo jeito mesmo com a distância, amigo de ano em ano, inimigo ex-amigo, amigo ex-inimigo, ex-amigo que não virou nada, colega que poderia ter sido amigo, e haja variações de graus da amizade. Pra mim, amigo é amigo e pronto! O que não é amigo é conhecido, colega, pessoa querida...

É para o amigo que eu confidencio, me derreto em lágrimas, não tenho melindre, admito minhas vergonhas, não tenho pudor de dizer que não sei, peço emprestado, peço ajuda, abuso e recompenso. É pro meu amigo que faço doações incondicionais de tempo e espaço assim que ele necessite. É pra ele toda a minha sinceridade, minhas verdades, meu carinho eterno, minhas orações mais luminosas, meu pensamento constante. Dono de terreno lavrado, escriturado e instransferível no meu coração. Ele tem o meu respeito interino. É recíproco a privacidade de sentimentos, a linha de conforto respeitada - tudo aberto na medida certa. Natural como deve ser, o verdadeiro amigo sente as necessidades e belezas da amizade exatamente como você. Pode até torcer pro Corinthians, e você ser Palmeirense. No dia do confronto, vai estar tudo em paz. Posso não entender ou aceitar a forma como meu amigo às vezes leva a vida, mas respeito, assim como quero ser respeitada. E crescemos juntos. (Chegará ainda o dia em que eu sentirei tudo isso por qualquer desconhecido por todos os dias seguintes. Aí, sim, eu posso ir pro Céu!...)

Amigos podem ser completamente diferentes, e se darem tão bem como nenhuma outra relação pessoal da sua vida poderia ser. Tudo porque essa sintonia é perfeita, e mesmo diante das diferenças, é igual o modo deles de sentir e viver a amizade. Na minha vida, meus amigos podem ser contados nos dedos de uma mão, mas preenchem todos os dedais do mundo!

Nesse dia 20 de julho - Dia do Amigo no Brasil, chuva de luz a todos os amigos!, e desejo essa magia àqueles que ainda não descobriram essa verdadeira cara metade.
FELIZ DIA DO AMIGO!

Bjos Temperados,
Lika


PS.: Pra quem tem saudade da Raposa do Pequeno Príncipe, deixo o trecho que dá a receita de como cativar alguém!...
(YouTube) O Pequeno Príncipe e a Rapoza

sábado, 18 de julho de 2009

De fogo, de cinza e de bálsamo

Morreu.
Uma Fênix.
Acabou de morrer...
...
... ... ...
E agora outra...
... ...
...
E mais outra, neste instante..
Fogo me queima, fogo me cinza, fogo me luz.

Nos seus lugares, renascem elas mesmas, em forma de filhas. Sempre há perfume de bálsamo e mirra espalhados pelo ar enquanto as cinzas percorrem o espaço até seus destinos.

Não sei se só os humanos tem a capacidade de atribuir fatos e meios aos símbolos. Romantismo exacerbado, romantismo delicado, fé superficial, crença fundamental pra seguir em frente. Um quê de magia sempre pairou no ar inspirando nossas histórias, tão capengas que cedo ou tarde vira tudo grosseira ilusão de mágico amador.

Fato mesmo é viver o roxear invisível do joelho a cada tombo, sentir o calor e o visco do sangue transparente a cada covarde punhalada verbal pelas costas. A cada flor recebida, a cada gesto de ajuda, mão extendida. A cada alto e baixo, saber que tudo continua, saber continuar. Vale renascer, manter a essência, e começar de algum ponto a frente do relativo zero absoluto. Como espiral: partir sempre duma medida acima do ponto de partida da volta anterior. Maior será a força da gravidade: medida justa da bagagem que acumulamos, determinante da velocidade de outros 360º: constante, inconstante, inexistente...

Papo volátil: serve só pra pensar em semi-tudo ou quase-nada enquanto a vida lá fora, enquanto a vida aqui dentro! - corre como água de rio, voa como vento, continua como a Terra, a rodar, voltar, rodar...

Recomeçar...

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Até enquanto durarem as células

Mesmo no frenesi automatizado do dia a dia, estamos mergulhados em arquétipos e tradições. Não só as tradições: também as benesses que faziam mais parte da vida de nossos avós do que das nossas. Esquecemos há muito tempo que é gostoso espreguiçar ainda sentados na cama ao acabar de acordar: 10 segundos que os músculos e o bom humor agradecem! Esquecemos de dizer bom dia com a verdadeira afeição de Bom Dia: o cumprimento virou parte do ritual de descer de elevador, sempre antes de apertar o botão do sub-solo. Alguém aí, quando chega em casa depois de perambular pra cima e pra baixo pela cidade o dia todo, ainda faz uma merecida automassagem nos pés e panturrilhas? Não!!... Onde está o velho e bom costume da vovó de lavar as mãos antes de qualquer coisa, até mesmo de passar a mão nos olhos?! Não sei! Ninguém viu! Sumiu... Nem ao menos lembramos de lembrar que isso ainda existe...

Só em momentos com pessoas naturalmente especiais é que detalhes interessantes e perdidos no tempo vêm a tona.
Simoninha é uma dessas pessoas que exalam luz: no jeito de falar, de olhar, sentir, viver. O mundo está desabando e seu otimismo lá: inabalável. Eu chamo isso de fé. Ela também. Simone parece um bichinho-preguiça: pacieeeente... Tão paciente que, em alguns momentos, tira fácil a paciência de qualquer monge tibetano! Em compensação, se ainda não tivessem dito que a pressa é inimiga da perfeição, certamente teriam nela a inspiração pra falar tamanha sabedoria. Viver momentos ao seu lado é sorver carinhosamente cada delicadeza que a vida nos oferece a todo instante, normalmente atropeladas em nome da "eficiência".

Estávamos no processo final de legendagem do Ecléticos Corações. Como boa produtora e diretora, responsabilizou-se por comprar as mídias que precisávamos pra enviarmos o curta ao Festival de Cinema Brasileiro do Canadá. No trajeto de sua casa até a loja mais próxima, atravessamos avenidas caóticas debaixo de um sol de fritar ovo no asfalto. Eram 15hs, horário muito "agradável" pra caminhar no centro de uma capital do Centro-Oeste.

Ah! O Calor Goianiense... Seco! Ventinho empoeirado. As paredes ficam tão quentes que bafejam pra qualquer atrevido que a faça de encosto. "Olha a água Mineral! É geladinha! Quem vai querê?!? Leva duas! - é três reauls!" Água de côco - gelada! Aos "formigas", caldo de cana - moída na hora, com muitas pedras de gelo! Sorvetes?! Derretem! Um caos!... Nessas horas, nada como uma sombra de árvore - daquelas que ainda sobraram no centro da cidade, ou a de uma marquize virada pro sol nascente. Por aqui, sombra virou sinônimo de fugir do sol: salvar a pele... E todo mundo fala da sombra da árvore, do poste, do guarda-sol do moço do picolé. Sombra de tudo! Mas ninguém: Ninguém! - lembra da própria sombra...

Companheira de todas as jornadas, desde o primeiro berreiro ao suspiro fatal, noite e dia. Surda e muda. Gooooorda, magriiiinha. ALTA, baixa. Pregada no pé. Desvalorizada, disforme, maleável... Sempre a lamber ruas, camas, calçadas. Toda roupa é roupa igual: cinza. Solitáááária... "Ô dó!"... A não ser que encontre com outra amiga! Aí sombra abraça, beija, ri, se diverte... Tudo do jeitinho dela: deitada em pé.

"Se minha sombra falasse..." Dela, não tem jeito de esconder: nem no escurinho do cinema! Mesmo no quarto em breu, tão negro a ponto de não conseguirmos enxergar o próprio nariz, certamente ela está lá, camuflada de preto. Ou talvez ali seja tudo ela: nós é que viramos sombra da própria sombra. Pros filmes? Onipresente: ora a ser exterminada por toneladas de lúmens, ora atriz principal -
a predileta de Hitchcock. A mais bela passa por paredes com maestria. Borda rendas, pinta desenhos, descortina emoções. Compacta ou fina penumbra: depende do diretor. Sim! - é ele quem manda! Mas acima de tudo, sombra tem que ter o timing, o feeling de provocar arrepios. E a gente?!... "Nem tchum" pra ela!... Só lembramos da bendita quando um incoveniente qualquer nos segue pra lá e pra cá. Sombra vira sinônimo de chatice. É. Sómos muito mal agradecidos mesmo...

Nessa de esconde do sol daqui, garimpa mais uma sombrinha dali, eu e Simoninha estávamos no caminho de volta, já com os DVDs virgens na mão. Esqueci do abuso do sol em minhas costas e passei a admirar a companheira: minha sombra. Mais uma vez, serpenteava meu corte curtinho que Simone e Vâninha - O Anjo, tanto gostaram. Foi por causa da sombra sem sombra de marquize que tudo virou vento fresco num instante. Até esqueci que tinha pisado em uma poça de água suja. Simone lembrou-se de um vídeo. Uma criança descobre que a danada da sombra não vai deixá-la nunca. A menina anda o quanto pode, levanta o pé, chora e olha pra mãe. Grita, grita, grita! Tadinha!... Corre mais um pouquinho, e olha lá, a bendita denovo na frente dela - grande! E ela chora! Os pais? A gargalhar! É o que se há de fazer, e nada mais...

Estávamos próximas do prédio da Si, filosofando sobre as simplicidades que estão a nossa volta e não as vivenciamos, como a nossa singela sombra. Não ocupa espaço, não incomoda ou agride, não deixa rastros. Companheira até enquanto durarem as nossas células. "Isso dá um curta, hein!"... E em tempo, a sombra do prédio nos aliviou a pele. Entramos, enfim.

Quanto ao curta, não sei... Só sei que deu um post nesse blog.

Simone Caetano, obrigada pelos doces momentos. Desejo estar sempre contigo, tomando seu ombro para minhas lágrimas, emprestando meus dedos no teclado para cortes e tratamentos de imagens, e presenteando com o meu sorriso os nossos momentos doces. O mundo precisa de mais Simoninhas espalhadas por aí. Só assim o vermelho das flores será vibrante para todos. Obrigada por sua companhia, pela oportunidade de sempre participar de seus projetos, e por cada lição que aprendo quando estou contigo.
Um beijo no seu coraçãozinho,
Manjericão Nóbrega.

PS.: pros curiosos, deixo dois links: O primeiro tem a cena que a Sica lembrou, e que rimos muito quando vimos. É o trecho que tem um letreiro "Com medo da Sombra", em 2min27seg do vídeo de 6min. O segundo link é uma das mais belas propagandas da Wolksvagen, e que me agrada muito - sugestão do Xuxuuu (o Gui, meu irmão - outra pessoa indispensável pra paz no mundo). Espero que gostem!
Beijos temperados!

Youtube - Vídeos mais engraçados

Youtube - Propaganda Wolksvagem (Sombras)

sábado, 11 de julho de 2009

Dedicado a nós (ou) Dedicado a minha mãe

Adolescente dos anos 60, minha mãe colecionava duas coisas: LPs e amarguras. Das amarguras, maiores que espinhas na face, mudanças do corpo, conflitos de gerações. Dos LPs, estilo romântico. As mini bolachas de 4 faixas dividiam-se em dois: The Beatles e Roberto Carlos. Nunca ligou pro Tom e pros Novos Baianos. Só veio a gostar dos baianos quando os caracóis de Caetano platinaram, e educaram-se pelo tempo.

Os vinís ficaram pra trás, muitos sonhos também. No lugar, outros discos não tão melodiosos: a vida dava o tom. Será que por isso, o Jobim não lhe chamava atenção? Não sei. Só sei que um belo dia O Tal do Roberto inventou de fazer um show em Goiânia, e há 5 anos minha mãe realizou sonhos que os disquinhos não levaram.

Era enorme o amontoado organizado de carros e gente na porta do Clube Jaó. A organização era apenas uma questão de educação. Pra todo canto, olhares estrelados. Peguei minha mãe pela mão. Foi a primeira vez em 25 anos de convivência maternal que eu a conduzi. Estava em seu debut: um grande show, um programa mãe e filha, ver Roberto Carlos. Era dela o olhar mais brilhante. Mas mal sabia minha mãe que quem a acompanhava era tiéte moderninha.

Admito: sou Maria-Microfone! Adoro chamar atenção de artista no palco. Já ganhei palheta do Henrique - o tecladista do Skank, baqueta do baterista do Kid Abelha. Me tomaram no tapa uma toalha do Tony Garrido, bem no gargarejo do palco. Estava inclusive com uma excunhada que também irritou-se com o abuso daquela insandecida. Com os anos larguei a adolescência de colecionadora. Fiquei menos cara de pau. Um pouco menos...

10 mil pessoas no show. Até a quarta canção, eram longos aplausos contidos entre uma música e outra, no estilo "fazer o chique". Estava ficando chato. Onde se enfiou a naturalidade das pessoas? Até o Rei estava tímido, um tanto formal com a platéia. A "Maria-Mic" que existe em mim não aguentava mais se esconder. Antes de começarem a quinta música, percebi a luz do público acender, e fiz...

Por impulso, levantei o braço e o sacudi: acenei! A uns 30 metros, lá do palco, o Rei, com o braço esquerdo ainda colado ao corpo, balançou a mãozinha aberta: um tímido tchauzinho com aquele sorriso mágico do "He, he, he... São tantas emoções..." E deu-se o disparo: milhares de gritos histéricos emergiram do mar de cabelos loiros, ruivos e morenos. Eu gargalhei de alegria e surpresa! Dali pra frente, Roberto viu belíssimo jardim de braços em haste, mãozinhas em flôr, unhas esmaltadas em tons bordô e paixão, sacudidas ao ar em esperança. Todo mundo queria aquele meu tchauzinho. E o Rei relaxou.

Em pé, na turma da lateral direita do palco, víamos vez ou outra a figura do Roberto. Não havia espaço. Minha mãe, mais baixinha que eu, sempre na pontinha dos pés, apoiava a mãozinha no meu ombro. Eu a sustentava.
Cantava alto. Rompia 55 anos de silêncio. O cavalheiro Rei dava a ela, a frente no término das canções. Chorou. Detalhes! Belo.

Roberto tem o dom de, mesmo diante de uma constelação feminina, nos fazer únicas, exclusivas de seu carinho e palavras cantadas com tanta verdade. Brasileiro que se preza deve, pelo menos uma vez na vida, ir a um show de Roberto Carlos - nem que seja de Calhambeque! Todo exagero por parte de quem foi é pequeno demais pra tantas Emoções.

Não ganhamos a
valiosa rosa das mãos do Rei, mas guardei comigo para sempre, o melhor perfume da recém-amizade de fé, minha mãe querida e camarada de tantas jornadas. Foi um dos melhores convites de toda a minha vida. Obrigada por tudo, Mãe. Beijos carinhosos da sua filha saladeira e apimentada, Manjericão.

PS.: Hoje Roberto Carlos faz um show no Estádio do Maracanã - RJ, em comemoração aos seus 50 anos de carreira.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Rei Nício



De todo dia, assim que o sol nasce e que de vez em quando a Lua insiste em ficar mais um pouco pra logo mais reiniciar. De histórias de figuras novas de tela de TV, de semi-finda fita digital. De horários pra nova rotina velha. De conhecer companheiros pras novas batalhas velhas. Dos velhos companheiros, pra novos frescores. De conceitos firmes e longínquos, crenças, amores, rumores. De papos, luzes, olhares. De ventos em velhos trajetos. De linhas mascadas ao cansar dos dedos e dos sonhos. Do coração em novo ar de notícias e rítmo. De tudo, ou de nada. Porque nada muda dentro de nós se não quisermos, se não deixarmos. Mesmo o meio da semana vira meio porque dele teve início um sísifo estar. E reina o Rei Nício, fictício onipresente bastardo de Chronos a nos vigiar. É sempre o mesmo com nova moldura até enquanto dure o ressucitar. Dá início ao reinício do meio com ponto final de recomeçar.

domingo, 5 de julho de 2009

Anúncio: PROCURA-SE


PRA ENCERRAR A SEMANA DE SIMPLES PESSOALIDADES...


Ontem, quando terminava o texto "Um sábado", post anterior a esse, enviei-o pra uma querida Menininha dos ZóiGrandi. Acabou que ela também estava numa sensação semelhante. Até brincamos que foi um inconsciente coletivo. Combinamos então, de comer uma torta de frango numa feira tradicional da cidade. Desliguei o computador, coloquei capacete e saí camelando pela noite com a bike branca e vermelha (A propósito, preciso batizá-la, já que faz parte tão intensamente da minha vida... risos).

Eu e Menininha nos reencontramos com saudade, ao melhor estilo de euforia de mulherzinhas: abraços efusivos, sorrisos e gritinhos de Como você tá!? O que tem feito!? e blábláblá... Dado o esquete, fomos atrás da bendita comida, mergulhadas em fofocas sobre o tempo que passou e do que ele nos deixou.

Sentadas à mesa qualquer
de lata, já com nossas tortas de frango com muito queijo catupiri derretido por cima, sucos gostosos e feitos na hora, descobríamos desejos de um assunto feminino quase sempre inevitável: relacionamento. Até comentei: vou postar isso no blog, hein! E no vai e vem de idéias, ela começou a montar o seu homem ideal com tópicos inusitados:

01) Tem que ser cabeludo, daqueles com lisos cabelos bem cuidados, abaixo dos ombros, e também gostar dos meus cabelos cacheados e ruivos.
02) Ter olhinhos puxados, e pode usar óculos pra dar um charme.
03) Tem que ser saxofonista, ou pelo menos demonstrar o interesse em aprendê-lo.
02) Tem que ter altura acima de 1,75m.
04) A faixa etária: entre 25 e 30 anos.
05) Deve ter amigos que eu possa gostar, e também que de mim possam gostar.
06) Pode chegar numa Ferrari vermelha, em vez do cavalo branco. Aliás, cavalo branco já está fora de moda, melhor um corcel negro, daqueles bem reluzentes. Mas esse tópico é dispensável.
07) Tem que gostar de cachorro, especialmente da Mimi, a minha cachorrinha velha e gordinha.
08) Tem que gostar dos meus pais, e que meus pais também gostem dele.
09) Tem que gostar de viajar, e que possa ir até Amsterdã comigo.
10) Tem que entender de cavalheirismo: abrir porta de carro, andar de mãos dadas, deixar-me ir na frente quando se é do tradicional, mandar flores e naturalmente exalar outras coisas relacionadas a ser gentleman.
11) Tem que saber cozinhar, pra poder fazer jantares deliciosos, e saber montar uma bela mesa de café da manhã. E não basta só fazer, tem que saber também lavar a louça e deixar a cozinha um brinco, sem preguiça.
13) Tem que ter uma situação financeira acertada, ou um futuro promissor em andamento.
14) Tem que ter uma boa família.
15) E acima de tudo, me respeitar e gostar de mim do jeitinho que eu sou.

Ótimas risadas, e o tempo passou rápido. Achamos melhor parar por ali com as exigências, e logo o pai dela chegou para buscá-la. Rápido cheguei em casa, com a marcha mais pesada que pude colocar na magrela. Tomei um banho e adormeci, assim bem simples como termina mais um simples sábado.

E eu sei que ninguém está falando nada, mas minha imaginação pra lá de fértil supõe que queira curiar sobre o meu par romântico. Também falamos dele - é verdade, mas esse é um post que prometi pra Menininha. Sobre o que eu quero deste gentleman, o homem dos meus sonhos, fica pra um outro dia...

Bjos temperados!

PS.: A moça da foto do post é a Menininha. Ela autorizou, taí a foto... :D

sábado, 4 de julho de 2009

Um sábado


Na lista de contatos do celular são quase 200 nomes, e nem preciso pensar pra notar que a maioria não tem o prefixo daqui. Há tempos atrás eu me descabelaria, mesmo tendo acabado de entrar na onda deliciosa do chanel.

Hoje o dia foi estranho. Depois de muito tempo, que nem é tanto tempo assim, bateu a mania de uma velha conhecida. Não que somente seja sensação, porque solitária eu sempre fui. São em menor quantidade os momentos de companhia em minha vida. Antes, por opção. Hoje, por falta delas. Aliás, mentira: solitária de ontem e de hoje por falta de coragem de expor a cara a tapa, me jogar ao sabor do vento de novos amigos e amores, como fiz recentemente.

Quanto a amores - um parágrafo a parte, falta pouco pra chegar à conclusão de que quase tudo o que a sociedade me sugere não me serve. É uma roupinha bem apertada - branca saia justa que marca e deixa tudo aparecer, e eu detesto essa maneira de vestir. Penso que devo ter nascido na época errada, ou época certa pra ser quem sou: uma comum maçã na caixa de laranjas. O que quero é apenas um companheiro, sem as vantagens e desvantagens do casamento. Filhos seriam bons, mas meu ideal nunca foi ter herdeiros. Que minha querida mãe me perdoe, mas é a verdade. Bom, quem sabe a vida mude - nunca se sabe. Quem sabe, não. Nem mesmo ainda tenho quem me queira, assim eterno sorriso como sou, no aguardo de viver uma bela poesia. O estar junto envolve a moda antiga, conceitos além idade ou físico escultural, como por exemplo o cavalheirismo e a cultura de cultura, que sei estarem distante do que tenho vivido. Enquanto isso, fico literalmente na minha: vivo-me. Escrevo, edito, pedalo, sonho, moldo-me em felicidade.

Penso que não é perigoso ter manias, até porque sou o que sou, e me respeito assim. Perigosas mesmo são as consequências potencializadas que essas manias trazem. Mania de ficar em casa degustando o silêncio de onde moro, apesar da segunda paralela ser movimentada avenida. Mania de acordar com passarinho bicando a janela do meu quarto. Mania de ver os seus ninhos no pé de jabuticada do vizinho, que tem muro baixinho, sem cobrir o belo róseo pôr do sol. Mania de telefonar sempre pras mesmas pessoas, porque são as mesmas que sempre me escutam. Mania de vergonha de ligar pras novas, mania de pensar o que elas vão achar de um convite meu qualquer, junto com a pior de pensar que elas sempre o irão recusar. Mania de não receber telefonemas apenas pra falar besteira - mas acho que nesse ponto, a culpa mesmo é das operadoras telefônicas de hoje, que sempre colocam tarifas absurdamente altas. Se são companhias de comunicação, que direito elas tem de inverter esse fim, facilitando apenas os abonados de matar a saudade pela distância de quem se quer bem? Duplamente injusto, e ficamos invertidos na solução do nosso dilema.

Mania de querer escrever a respeito das coisas. Mania velha que me faz bem: soltar pelas letras aquilo que me prende. Também larguei a mania de querer prender aquilo que não me serve. Bom, pelo menos tento. Depois de muito tempo, como já disse, senti-me novamente sozinha, um quê de inutilidade grupal. No último mês tudo foi diferente. Tinha uma rotina novinha, com gente por todo canto das 8h as 18h, e voltava pra casa sozinha, com a minha magrela branca e vermelha que nunca me deixa só. Esse foi o primeiro final de semana que não houve mais. Talvez essa solidão seja pela falta do que eu sempre quis, e do que por pouco tive na somatória do tempo. É, pensando bem, pode realmente ser.

Nada comparado a antes, com extremos de desespero desmedido. Também não penso que aceitei simplesmente o fato de ser assim. Acredito que tenha sido um mixto de tudo, desde enxergar verdadeiramente quem sou, lidar com o que sou da melhor forma possível, e encontrar saídas pra carinhosa e calmamente me transformar no que quero ser de melhor pra mim. Apenas me importam as pessoas que verdadeiramente desejam que eu seja feliz. E com todo respeito, dane-se o que pensa o resto do mundo. É mesmo um egoísmo coletivo: se sou feliz, posso dar a todos, bombons de felicidade.

Não tenho pretenção alguma em fazer dessas linhas um sermão de autoajuda. "Não sou nada, nunca serei nada." E estou agora, depois das linhas expostas, mais confortável. Deu vontade de pedalar... É... vou pedalar... São 20h30, o tempo ainda ajuda, e o vento no rosto vai ser gostoso. Não se encomode da forma como saio, assim como quem desliga a TV pelo controle remoto, num corte seco e inexperado no meio do texto da atriz. Mas tenho que ir. Vou à feira. Até mais...

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Sexta de cortes


Ensaiava há uma semana. Foi um grande amigo quem me apoiou. Amiga, amigo, não importa. Fato é que ensaiava há uma semana pra dar um bico no meu cabelo. Um não: dois! Por favor, simetria na história, ora bolas... (risos).

O espelho me devolvia a agonia com o corte ainda em boas condições. Concretizavam-se mil balões honomatopéicos de uma frase só: hora de mudar. Por dois dias fiz pesquisa na internet dos curtinhos que sempre quis. "Downloadiei" as inspirações, salvei na memória do celular, marquei hora pra corte e escova, e não via a hora de sexta-feira chegar.

Passei o dia na expectativa. Não consegui fazer qualquer coisa descentemente, competentemente. Almoçar?! Nem lembrei. Só observava aquelas mechas de pontas cacheadas, perdendo a escovinha da noite anterior de gravação dum DVD de serestas. Fiz inclusive uma hidratação em homenagem àqueles centímetros com horas contadas, e ficaram tão macios que tive pena deles, assim tão brilhantes, de nem sonharem que noutro dia a tesoura nos apartaria - para sempre.

Há uma hora e meia antes da transformação eu já estava enfiada debaixo do chuveiro: corto ou não corto!? Ainda há tempo de desmarcar. Eles estão tão macios!... Parece chantagem dos danados que ficam mais bonitos no exato dia em que a gente resolve deixá-los. É sempre assim! Sempre assim! De propósito, só pode!

Donizete é o único santo do Departamento Celeste dos Cabelos a quem confio minhas madeixas. Baixinho, parece um menino. Sorriso sempre aberto. Um gentleman: com as clientes e com as tesouras! Carequinha. Assemelhou-se especialmente hoje, a um personagem do pente dos contos mágicos da Takai, o primeiro de Não subestime uma mulherzinha(*). Nenhum deles precisa desse rótulo preconceituoso e demodê, mas meu cabelereiro trabalha com a esposa: linda e hiper simpática. Excelente casal homem-mulher.

Antes de tudo, mostrei-lhe o dossiê das fotos. Amoladas as tesouras, água fria e shampoo, e depois pra cadeira regulável, que por mais medo que já tenha aconchegado, me abraçou como poltrona de rainha. E dá-li redobradas fofoquinhas de salão: além de Michael Jackson, amenidades sobre a crise financeira e a importância da organização de classes profissionais para um mundo melhor. Cortar cabelo da gente alinhada que frequenta a sua "fofoqueria" é para as duas partes - ele e seus clientes, agradável e vantajoso. Donizete é estudado do mediano Bê-A-Bá, multiplicado por muitos cursos: da vida e da sua profissão. De origem simples, venceu pela humildade. E dá-li tesoura! Juro que nem vi o que estava caindo pelo chão. A vassoura eficiente da assistente levava rápido as sobrinhas. E dá-li tesoura, motor de secador da colega ao lado e fofoquinhas.

Do corte para a escova. E
ntre olhadelas e cochichos no salão, o desenho foi surgindo, lisinho. Enfim, o chanel presenteou o meu rosto almodovariano. E era tanta gente cheia de ÓOOHhhh!... que envergonhei. Olhava no espelho e perguntava como não tinha pensado nisso antes!? Algo que eu procurava, tinha medo e não arriscava, mas ficou tão meu jeito que me assustei. Passei a mão como sempre, só que a mão escapuliu e encontrou o ar das costas. Que estranho, mas gostoso! Ah, Donizete!...

Eram pouco mais de 7 da noite. Resolvi voltar a pé. Minha vaidade queria o ÓOOHhh! dos estranhos, como se soubessem ou se importassem com a minha delícia. Coisa mais comum! Mas olha só, ô seu moço, olha que beleza! Que curtinho! Que soltinho! Que lisinho! Que Delícia! Que bonito que ficou!... E eram muitas calçadas diferentemente iguais! Farfaleando pelas quadras, olhava mesmo era pra minha some-aparece-some-aparece-sombra, entre postes e faróis de carros. Me apaixonei pelos fios esvoaçados ao ventinho fresco e seco que o inverno goiano nos dá. Como em Hollywood, parei o trânsito por várias vezes (com uma ajudinha dos semáforos - vermelhos, lógico)!

Entrei na padaria pra comprar rosquinhas, leite e pão francês. Fiquei com cara de francesa com o Chanel de Bico no sorriso! - pensei. O dono até me sorriu - na mesma simpatia de ante-ontem. Sua esposa também me sorriu - na mesma alegria de ontem. E hoje o tradicional "Boa noite e volte sempre!" foi o mais sorridente. Em casa, vizinhas deram pulinhos e gritinhos em tons de Ah! Se eu tivesse coragem!... Melhor mesmo, só a cara do Gui - o meu Xuxuuuu irmão. Ele, que nunca repara nessas coisas e quando repara rasga elogios inusitadamente contrários àquilo que toda mulher quer ouvir, abriu de imediato o belo sorriso, e inspirou um alto Olha sóooo! Que gata, hein! Adorei! Ficou linda!...

Narciso anda me agradecendo com sorriso solto quando vou ao espelho, e vai continuar até enquanto durarem os estoques de encantadores espantos dos amigos. Do mais, tudo em breve volta ao doce normal, centímetro a centímetro, mês a mês...

(*) O livro de deliciosa leitura: Não subestime uma mulherzinha, me foi recomendado por um recém descoberto homem. Recém descoberto por mim, que tanto ouvia falar dele, de seus trabalhos, de sua generosa simplicidade, de suas fortes proezas. Meu querido poeta Alberto, obrigada pelo apoio e doces palavras sobre minhas perdidas e eufóricas linhas. É com vaidade comedida que recebo seus elogios, e sou-lhe especialmente grata por isso. Seu conhecimento é a pauta de suas palavras, e por isso tanto respeito e consideração meus. Desde já e sempre, muito obrigada. Nóbrega.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Ao meu anjo da guarda.

Doce presença, que sempre me espreita. Companheiro inseparável na direção e altura de minhas pegadas. A outra mão da outra alça da cesta. Fofoqueiro de docilidades e eminências de perigos. Companheiro de lágrimas concretas que chora junto, e enxuga a dor da corrente esmagada. Suas lágrimas são carinho, doce presente invisível-sensível, maciças e puras bolinhas de cristal da alma via coração. Sorrisinho de criança ao pé do ouvido pra abrir a janela fechada onirica e cálida há poucos segundos prum mundo fantásticamente real, apenas pra saudar com ele, os primeiros raios de sol. Pio de rolinha na janela em busca de novidade e canção. Fartura na secura do coração. Sombra rendada de fôfo gramado. Bengala pros pés rachados de novidades cortantes. Mensageiro de impressões reais, tão inacreditavelmente certas que até parecem mentira. Matéria delicada, pura, cheia de não sei o quê que só se define num etéreo dicionário. Para somente ele, a cada pegada na terra doada é plantado meu respeito. Que em tempo suficiente, minhas mãos colham em prece o fruto doce para seu nutrir. Por todos os dias, momentos, menor partícula existente do tempo do qual você tem conhecimento, é exclusivo a ti, a luz que um dia terei e que hoje me falta, todo o meu carinho e o meu agradecimento.

Um bejio eterno
e sincero em sua alma
com sabor de horizonte de algodão de Angelus,
Manjericão Branco.

7 equações da minha rotina criativa


1: A Primavera chega pra quem deixa o Inverno passar. Deixe Se7embro entrar.

2: Nas suas 7 letras são resumidos tantos que o resto do alfabeto é redundância: SAUDADE.

3: Passarei por sempre 7 dias de todos os 7 tempos pra deixar a cada momento 7 beijos com frescor de manjeircão.

4: De segunda a domingo, há males que vem com os males que deixamos continuar, mas há bens que, a todo minuto, querem tomar este lugar.

5: Por n X 7 vezes pincelado, poema refugado poema rejeitado.

6: Teoricamente, somos gatos menos 6 vidas.

7: SIMPLES: adjetivo, substantivo, assexuado; invariável. Valor de X que é = ao valor de SIMPLES é = à matemática insolucionável por qualquer equação metafísica ainda desconhecida, anos-luz dos nossos conhecimentos pretenciosos e universais. PERFEIÇÃO: superlativo de [SIMPLES +/- 2].

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