sábado, 4 de julho de 2009

Um sábado


Na lista de contatos do celular são quase 200 nomes, e nem preciso pensar pra notar que a maioria não tem o prefixo daqui. Há tempos atrás eu me descabelaria, mesmo tendo acabado de entrar na onda deliciosa do chanel.

Hoje o dia foi estranho. Depois de muito tempo, que nem é tanto tempo assim, bateu a mania de uma velha conhecida. Não que somente seja sensação, porque solitária eu sempre fui. São em menor quantidade os momentos de companhia em minha vida. Antes, por opção. Hoje, por falta delas. Aliás, mentira: solitária de ontem e de hoje por falta de coragem de expor a cara a tapa, me jogar ao sabor do vento de novos amigos e amores, como fiz recentemente.

Quanto a amores - um parágrafo a parte, falta pouco pra chegar à conclusão de que quase tudo o que a sociedade me sugere não me serve. É uma roupinha bem apertada - branca saia justa que marca e deixa tudo aparecer, e eu detesto essa maneira de vestir. Penso que devo ter nascido na época errada, ou época certa pra ser quem sou: uma comum maçã na caixa de laranjas. O que quero é apenas um companheiro, sem as vantagens e desvantagens do casamento. Filhos seriam bons, mas meu ideal nunca foi ter herdeiros. Que minha querida mãe me perdoe, mas é a verdade. Bom, quem sabe a vida mude - nunca se sabe. Quem sabe, não. Nem mesmo ainda tenho quem me queira, assim eterno sorriso como sou, no aguardo de viver uma bela poesia. O estar junto envolve a moda antiga, conceitos além idade ou físico escultural, como por exemplo o cavalheirismo e a cultura de cultura, que sei estarem distante do que tenho vivido. Enquanto isso, fico literalmente na minha: vivo-me. Escrevo, edito, pedalo, sonho, moldo-me em felicidade.

Penso que não é perigoso ter manias, até porque sou o que sou, e me respeito assim. Perigosas mesmo são as consequências potencializadas que essas manias trazem. Mania de ficar em casa degustando o silêncio de onde moro, apesar da segunda paralela ser movimentada avenida. Mania de acordar com passarinho bicando a janela do meu quarto. Mania de ver os seus ninhos no pé de jabuticada do vizinho, que tem muro baixinho, sem cobrir o belo róseo pôr do sol. Mania de telefonar sempre pras mesmas pessoas, porque são as mesmas que sempre me escutam. Mania de vergonha de ligar pras novas, mania de pensar o que elas vão achar de um convite meu qualquer, junto com a pior de pensar que elas sempre o irão recusar. Mania de não receber telefonemas apenas pra falar besteira - mas acho que nesse ponto, a culpa mesmo é das operadoras telefônicas de hoje, que sempre colocam tarifas absurdamente altas. Se são companhias de comunicação, que direito elas tem de inverter esse fim, facilitando apenas os abonados de matar a saudade pela distância de quem se quer bem? Duplamente injusto, e ficamos invertidos na solução do nosso dilema.

Mania de querer escrever a respeito das coisas. Mania velha que me faz bem: soltar pelas letras aquilo que me prende. Também larguei a mania de querer prender aquilo que não me serve. Bom, pelo menos tento. Depois de muito tempo, como já disse, senti-me novamente sozinha, um quê de inutilidade grupal. No último mês tudo foi diferente. Tinha uma rotina novinha, com gente por todo canto das 8h as 18h, e voltava pra casa sozinha, com a minha magrela branca e vermelha que nunca me deixa só. Esse foi o primeiro final de semana que não houve mais. Talvez essa solidão seja pela falta do que eu sempre quis, e do que por pouco tive na somatória do tempo. É, pensando bem, pode realmente ser.

Nada comparado a antes, com extremos de desespero desmedido. Também não penso que aceitei simplesmente o fato de ser assim. Acredito que tenha sido um mixto de tudo, desde enxergar verdadeiramente quem sou, lidar com o que sou da melhor forma possível, e encontrar saídas pra carinhosa e calmamente me transformar no que quero ser de melhor pra mim. Apenas me importam as pessoas que verdadeiramente desejam que eu seja feliz. E com todo respeito, dane-se o que pensa o resto do mundo. É mesmo um egoísmo coletivo: se sou feliz, posso dar a todos, bombons de felicidade.

Não tenho pretenção alguma em fazer dessas linhas um sermão de autoajuda. "Não sou nada, nunca serei nada." E estou agora, depois das linhas expostas, mais confortável. Deu vontade de pedalar... É... vou pedalar... São 20h30, o tempo ainda ajuda, e o vento no rosto vai ser gostoso. Não se encomode da forma como saio, assim como quem desliga a TV pelo controle remoto, num corte seco e inexperado no meio do texto da atriz. Mas tenho que ir. Vou à feira. Até mais...

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