sábado, 11 de julho de 2009

Dedicado a nós (ou) Dedicado a minha mãe

Adolescente dos anos 60, minha mãe colecionava duas coisas: LPs e amarguras. Das amarguras, maiores que espinhas na face, mudanças do corpo, conflitos de gerações. Dos LPs, estilo romântico. As mini bolachas de 4 faixas dividiam-se em dois: The Beatles e Roberto Carlos. Nunca ligou pro Tom e pros Novos Baianos. Só veio a gostar dos baianos quando os caracóis de Caetano platinaram, e educaram-se pelo tempo.

Os vinís ficaram pra trás, muitos sonhos também. No lugar, outros discos não tão melodiosos: a vida dava o tom. Será que por isso, o Jobim não lhe chamava atenção? Não sei. Só sei que um belo dia O Tal do Roberto inventou de fazer um show em Goiânia, e há 5 anos minha mãe realizou sonhos que os disquinhos não levaram.

Era enorme o amontoado organizado de carros e gente na porta do Clube Jaó. A organização era apenas uma questão de educação. Pra todo canto, olhares estrelados. Peguei minha mãe pela mão. Foi a primeira vez em 25 anos de convivência maternal que eu a conduzi. Estava em seu debut: um grande show, um programa mãe e filha, ver Roberto Carlos. Era dela o olhar mais brilhante. Mas mal sabia minha mãe que quem a acompanhava era tiéte moderninha.

Admito: sou Maria-Microfone! Adoro chamar atenção de artista no palco. Já ganhei palheta do Henrique - o tecladista do Skank, baqueta do baterista do Kid Abelha. Me tomaram no tapa uma toalha do Tony Garrido, bem no gargarejo do palco. Estava inclusive com uma excunhada que também irritou-se com o abuso daquela insandecida. Com os anos larguei a adolescência de colecionadora. Fiquei menos cara de pau. Um pouco menos...

10 mil pessoas no show. Até a quarta canção, eram longos aplausos contidos entre uma música e outra, no estilo "fazer o chique". Estava ficando chato. Onde se enfiou a naturalidade das pessoas? Até o Rei estava tímido, um tanto formal com a platéia. A "Maria-Mic" que existe em mim não aguentava mais se esconder. Antes de começarem a quinta música, percebi a luz do público acender, e fiz...

Por impulso, levantei o braço e o sacudi: acenei! A uns 30 metros, lá do palco, o Rei, com o braço esquerdo ainda colado ao corpo, balançou a mãozinha aberta: um tímido tchauzinho com aquele sorriso mágico do "He, he, he... São tantas emoções..." E deu-se o disparo: milhares de gritos histéricos emergiram do mar de cabelos loiros, ruivos e morenos. Eu gargalhei de alegria e surpresa! Dali pra frente, Roberto viu belíssimo jardim de braços em haste, mãozinhas em flôr, unhas esmaltadas em tons bordô e paixão, sacudidas ao ar em esperança. Todo mundo queria aquele meu tchauzinho. E o Rei relaxou.

Em pé, na turma da lateral direita do palco, víamos vez ou outra a figura do Roberto. Não havia espaço. Minha mãe, mais baixinha que eu, sempre na pontinha dos pés, apoiava a mãozinha no meu ombro. Eu a sustentava.
Cantava alto. Rompia 55 anos de silêncio. O cavalheiro Rei dava a ela, a frente no término das canções. Chorou. Detalhes! Belo.

Roberto tem o dom de, mesmo diante de uma constelação feminina, nos fazer únicas, exclusivas de seu carinho e palavras cantadas com tanta verdade. Brasileiro que se preza deve, pelo menos uma vez na vida, ir a um show de Roberto Carlos - nem que seja de Calhambeque! Todo exagero por parte de quem foi é pequeno demais pra tantas Emoções.

Não ganhamos a
valiosa rosa das mãos do Rei, mas guardei comigo para sempre, o melhor perfume da recém-amizade de fé, minha mãe querida e camarada de tantas jornadas. Foi um dos melhores convites de toda a minha vida. Obrigada por tudo, Mãe. Beijos carinhosos da sua filha saladeira e apimentada, Manjericão.

PS.: Hoje Roberto Carlos faz um show no Estádio do Maracanã - RJ, em comemoração aos seus 50 anos de carreira.

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